terça-feira, 18 de maio de 2010

Craques de antigamente

Pessoal segue uma belíssima crônica de nosso amigo Guima: 
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O Santos tem Neymar e Ganso; Nós já tivemos 'Tenente" e "Cobrinha"

O Santos Futebol Clube tem hoje em seu escrete, dois jovens talentosos e promissores no mundo do futebol. Dois talentos que tem desequilibrados as partidas a favor de sua equipe.

O futebol que eles tem jogado valeu um coro nacional a favor de suas convocações para a Copa do Mundo, que será disputado na África do Sul. Esses dois garotos tem me levado a lembrar com muita saudade de dois craques que freqüentava a nossa escolinha de futebol.

Jogadores cuja técnica e habilidades inigualáveis enchia de êxtase e admiração os nossos olhos. Rei só existiu um, Pelé; porém, confesso que dava gosto ir na pelada e estar ao lado de dois príncipes do futebol: "Tenente Nauir" e Nicolau "Cobrinha". "Tenente Nauir", tinha na canhotinha a mesma maestria de Diego Armando Maradona. Driblador perfeito. Era quase impossível tomar a bola de seus pés. Esse milagre, tomar-lhe a bola, na maioria das vezes, era concebido através de faltas. Essa era a única maneira de parar nosso Garrincha ás avessas. Já, o outro craque, Nicolau "Cobrinha" era um jogador rápido e dribles feito em velocidade, tipo Cristiano Ronaldo, do Real Madrid e titular da seleção Portuguesa. Esses dois mágicos reinavam solenes e majestosos pelas nossas quintas-feiras. As linhas do nosso campinho era na verdade, uma passarela onde eles desfilavam a sua arte de jogar futebol. Elegância, precisão e simplicidade executadas em jogadas bem executadas que, pela beleza e a genialidade impediam a reação dos zagueiros. Gols feitos em lance de pura genialidade que deixavam puro êxtase a torcida. Era comum a bola entrar num canto e o goleiro estar no outro. Jogadores perfeitos, que driblavam com facilidade, que chutavam bem de longe e também de média distância; e ainda tinham no cabeceio mais uma arma á disposição de seus vasto repertório de jogadas. Assim como Pelé e Garrincha, nunca perderam um jogo, estando lado a lado, na seleção brasileira; estes dois jogadores na pelada das quintas-feiras, também não! Quando estavam lado a lado a vitória era tão certa como tirar doce de crianças. O time deles não saía de campo! Na época, a que me refiro, quem ganhava continuava no campo! Na verdade, foi por causa desta dupla imbatível, que o renomado líder que dá nome ao nosso grupo, acossado por seus comandados que estavam cansados de perder, foi obrigado a modificar a regra da pelada. Lembro-me da noite em que antes de começar a pelada, o nosso líder, solenemente, anunciou a nova lei: "___Indiferente de quem perder ou ganhar, de hoje em diante todos os times irão jogar duas partidas de dez minutos"!

Todos nós entendemos e apoiamos brilhante decisão. Não podíamos nós, meros mortais, ganhar daquela dupla quando jogavam juntos; quando estavam em times opostos, a decisão sempre ia para os penais. Certa feita perdemos metade da noite, pois os dois times escolheram os craques como cobradores finais; ficamos ali assistindo uma verdadeira aula de cobrança de pênaltis. A pendenga somente foi resolvida no cara e coroa. Dependesse de um dois errar, um dos penais, estaríamos lá plantados até hoje, assistindo os dois converterem magistralmente suas cobranças. A única mancha na carreira de tão honoráveis atletas, não está relacionada á episódios de doping (A lá Dodô, Jobson e outros), nem a "noitadas" (tipo Vampeta, Edílson, Ronaldinho Gaúcho, Adriano e outros quinhentos jogadores brasileiros); mas sim, ao abandono de carreira de um colega de profissão. Os dois moleques do futebol da Escolinha, com seus dribles e jogadas desconcertantes foram responsáveis pelo abandono da profissão do jogador "Boi", irmão do Warley, sobrinho do Wilfrid e filho do Marcão.

O "Boi" era um zagueiro novo e bastante promissor. Ainda jovem já era um destaque do quadro futebolístico da nossa gloriosa Polícia Militar de Mato Grosso do Sul. Foi trazido á Escolinha para uma "peneirada", pelo seu pai, o Marcão. Ao final da "peneira" o Prof. Vadeci, pediu ao Marcão para trazer na semana seguinte, a certidão de nascimento e duas fotografias 3X4, para o jovem atleta ser integrado á equipe. O Prof. Valdeci sabia que o "Boi" era um atleta que podia somar positivamente á Escolinha, pois reunia o estilo clássico de jogar futebol de um Mauro Galvão e a virulência, quando necessária, do "Klebão" do Palmeiras. ". Um atleta que pelo seu estilo caiu como uma luva no grupo da Escolinha. Necessário registrar que o "Boi", assim como seu pai e outros integrantes, apesar de novo já tinha o vício da bebida. O Valdeci, quando se deu conta do problema e foi pedir ao genitor do "Boi", solução para tão difícil questão, recebeu uma resposta curta e inquestionável: "____Vadeci, é tão difícil quanto vaca parar de pastar, cachorro parar de latir! ESTÁ NO DNA da criança. O cara é meu filho!"

Diante de tão assertiva resposta o Valdeci integrou o "Boi" ao elenco tal qual como era: bom de bola e beberrão! O futebol dele se assemelhava ao do nosso zagueiro-atacante "Jaimão"e a bebedeira também! ! Sou testemunha que o "Boi" se esforçou para marcar os dois moleques da Escolinha! Sou testemunha também que tal missão era impossível! Era um tal de "corre lá pra marcar que a bola não está mais comigo, que dava raiva!"

O certo é que cansado das fintas, dos dribles, dos "bonezinhos", das "meias-luas", que lhe foram inflingidas pela dupla de moleques atacantes da Escolinha, O Nicolau "Cobrinha" e o "Tenente" Nauir, o "Boi" abandonou a lide do velho esporte bretão. A cena final foi uma noite de lua, quinta-feira, a peleja recém tinha acabado de começar. O "Boi" partiu para tomar a bola do endiabrado Nicolau "cobrinha", mas como foi de qualquer jeito, as pernas ficaram abertas e ele tomou uma "caneta" daquelas. Nem preciso dizer que o lance resultou em um gol costumeiro do Nicolau, goleiro num canto e bola no outro.

Dando nova saída de bola, a dita cuja foi parar nos pés de seu querido "Tenente" Nauir. A bola parecia ter Nauir como seu namorado, estava sempre com ele. Desnecessário dizer que ele a tratava como uma verdadeira princesa: com mimos, delicadeza e ternura. O "Boi", assustado pelo baile anterior que tinha tomado, desta feita foi cuidadosamente.

Apenas cercou o Nauir e sua "queridinha"! O habilidoso "Tenente" Nauir gingou prum lado e o "Boi" achando que dava pra tomar a bola também foi. O "Tenente" voltou rapidamente para o outro lado; o "Boi" tentou acompanhar o novo movimento feito pelo oponente; porém não foi feliz, perdeu o equilíbrio indo bater de encontro ao alambrado, que circunda nossa arena.

Até hoje, ainda me lembro, do grito do "Boi" estatelado ao chão, rente á nossa cerca.

Foi um alto e sonoro:"_____PUTA QUE PARIU!"

Ato seguinte, o "Boi" limpou as mãos no calção, olhou com misto de raiva e desalento para o campinho e pediu: "__Põe outro no meu lugar!"

Foi a última vez que vi o "Boi" dentro das quatro linhas! De quando em quando,( mas lá de quando em quando mesmo!) ele aparece nas quintas-feiras para tomar uma cervejinha com o grupo, mas é só alguém lembrar "Tenente" Nauir e Nicolau "Cobrinha", os dois meninos da Escolinha do Prof. Valdeci, que os olhos dele enchem dágua!

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