quarta-feira, 29 de junho de 2011

Bife de fígado e lembranças da infância no pós-jogo da ESPROVAL!



Treslagoense do tempo em que a cidade tinha três lagoas, fui acostumado a agradecer a Deus por todas as refeições postas à mesa. Nas duas mais importantes refeições, o almoço e a janta, era sempre presente e abençoado, o arroz e o feijão. O arroz e o feijão, era as duas iguarias que não podiam faltar nunca na mesa da nossa família mineiro-baiana-brasileira. Sobre o arroz, cabe um hiato especial para lembrar que diferentemente dos dias de hoje, comprados em pacotes de cinco quilos; nas famílias humildes e numerosas como a nossa, para o correr do mês era adquirido saco de sessenta quilos de arroz. O arroz tinha que dar e sobrar! A esse dois pilares, arroz e o feijão, base da nossa humilde alimentação, sustentadores da culinária e da saúde familiar era acrescida a mistura. A qualquer tipo de carne, de vaca, de galinha ou de peixe, fritos ou em forma de guisados, era dado o nome de mistura, porque se juntavam ao arroz e ao feijão.



A mistura de carne de vaca, comumente era comprado da "carrocinha do bucheiro", que invariavelmente passeiava pela nossa rua, no horário da manhã. Como era poucos os que tinham geladeira para guardar os produtos perecíveis, tais como as carnes e miúdos, o bucheiro era obrigado a passar todos os dias, para suprir a mistura das refeições. A carrocinha do bucheiro, era um baú quadrado de madeira, revestido com uma folha de zinco, assentado sobre a carroça. Tal engenharia de madeira e zinco era necessária para manter afastadas as moscas longe dos miúdos. A porta ficava na parte de trás do baú e era fechado com um trinco. Dentro do baú pendiam ganchos de ferro, em formato de anzóis, onde a o miúdo era dependurado. A pesagem do miúdo era feito com aquelas balanças antigas, que possuiam dois pratos; num era acondicionado o produto e no outro os pesos (de 50, 100, 200, 300, 400 e 500 gramas) necessários para equilibra-los, estabelecendo a pesagem final. O bucho, o rim, o fígado, o coração, o mocotó, a língua, os ossos com carne, era apelidado de miúdos e raramente vendidos nos açougues. Considerados produtos de segunda categoria, adquiridos pelos bucheiros nos matadouros de gado, eram vendidos, para a população mais pobre, pelas ruas da cidade. Na magia da cozinha e mãos da minha avó, o miúdo se transformava numa comida gostosa e necessária para enfrentar o dia a dia. O meu dia a dia , (antes de eu trabalhar para ajudar na renda familiar), era composto de escola, pipas, bolinhas de gude, biboquê, banho de lagoa e peladas na rua, não necessariamente nessa ordem e importância; pois, brincar era a religião desse menino.


Dado voltas em minha vida o relógio do tempo, cá estou no pós-jogo da ESPROVAL, apreciando a isca de bife de fígado acompanhado de cebolas levemente douradas no chapão.



O cheiro, o gosto, me remete á mesa da cozinha da minha avó! Iguaria barata naqueles tempos, muitas vezes o bife de fígado dava o ar de sua graça em nossas refeições, três ou quatro vezes na semana.



De quando em quando, a super exposição dava um enfastio pra comer, oportunidade que minha avó fazia a sua sábia e costumeira recomendação: "__Coma tudo, porque o bife de fígado é bom pra anemia!"



Eheheheheh minha avó! Quantas saudades!



3 comentários:

Hélio Machado disse...

Recordar é viver. Não pense que essa vida que você descreve não é comum a muitos de nós. Eu, por exemplo, como originário da fronteira, acrescento no seu menu a mandioca...

Paco disse...

Como nós não tinhamos estas iguarias para degustar, quando muito um pedaço de linguiça "que não era feito pelo Fabão", aquela cortada em pedaços e enchida à mão ou então um glorioso "zóião" hoje mais conhecido como ovo, acrescentado ao famoso arroz e feijão, êtaaaaaa tempo bom. Abçs

Unknown disse...

Parabéns pelo texto... nostálgico para muitos de nós...