Mário Balotelli: o ato e a forma!

A forma inusitada de comemorar o seu segundo gol, pró-Azurra, na semi-final da Euro-copa 2012, em jogo do dia 26 de junho de 2012, em jogo contra a poderosa equipe da Alemanha, deixou intrigados milhões de torcedores espalhados pelo mundo. Diferentes e contrárias leituras pode ser feita do gesto do polêmico jogador, que dá uma pequena corrida em direção á beirada do gramado, subitamente estaca e então tira a parte de cima do traje azul da esquadra italiana, estático, semi-nu, encara seriamente a torcida, enquanto os companheiros de equipe corre para abraçá-lo. O que quis, realmente, significar com o gesto somente poderá dizer o protagonista da cena em questão. Eu, do lado de cá do oceano, no continente sul-americano, não pude deixar de observar com atenção e tentar, cá com meus botões, decifrar a pose enigmática do herói negro italiano. Voltando ao início da Euro-Copa 2012 é sabido que tem ocorrido manifestações de racismo durante a edição desse evento. Inclusive o nosso protagonista havia reclamado que ao pegar na bola, a torcida, ou senão, alguns torcedores racistas faziam barulho de “macacos”! Vale lembrar que o Roberto, recém-egresso do Corinthians, jogando num time da Rússia, abandonou uma partida porque alguns torcedores racistas jogaram casca de banana dentro de campo, no decorrer de uma partida em que ele atuava; Samuel Eto, jogando pelo Barcelona também enfrentou problemas parecidos, tendo ficado muito aborrecido com a constrangedora situação de intolerância, quando torcedores rivais faziam barulho de macaco quando o jogador tocava na bola. Voltando ao nosso herói Mario Balotelli,cabe ainda lembrar que numa brincadeira, no mínimo politicamente incorreta, um jornal inglês fez uma charge com o atacante, colocando-o no alto da Torre Eifell, no lugar do King-Kong.
Mas quem é Mario Balotelli? Os dois gols nos possibilitaram saber, através dos narradores e comentaristas esportivos, que ele é filho de Ganeses, que foi adotado e criado por uma família italiana. Um negro adotado que joga futebol no time campeão inglês 2012, o Manchester City e que foi convocado para defender a Azurra, na Euro-Copa 2012. As belas namoradas e os carrões que o jogador insiste, costumeiramente, desfilar fora das quatro linhas do gramado, é sempre muito comentado em sites e tablóides sensacionalistas. Temos aí os ingredientes do ato: um negro adotado, que desfruta de sucesso no rico mundo do futebol, detentor de fama e dinheiro, que tem sido hostilizado por alguns torcedores no evento europeu. Em jogo anterior quando a Itália eliminou a Inglaterra, ao marcar o gol que levou o jogo á prorrogação e os penais, Mário Balotelli já havia ensaiado um desabafo verbal contra seus agressores. Foi nítida a presença dos outros jogadores que rapidamente o abraçaram e impediram que ele colocasse para fora o que estava preso na garganta. Se não fosse a rápida aproximação dos outros jogadores italianos, tenho cá pra mim, que ele teria dito umas poucas e boas aos seus desafetos racistas. Passou-se a situação e novamente, num outro jogo bastante decisivo, na semi-final, ao fazer o segundo gol, Mário Balotelli diz com gesto o que quisera em jogo anterior, dizer com palavras e fora contido. O ato é o gol, o ato é o supremo momento do futebol, afinal nós todos vamos até os estádios para vermos isso; o ato é de uma beleza ímpar, uma pintura como se diz no meio futebolístico, ele se prepara e ao receber o lançamento, sai em desabalada carreira, dá um toque sutil com a perna esquerda para controlar a bola, que docemente se ajeita para a sua perna direita e na tentativa de saída do goleiro, ele fuzila para os fundos da rede. Um chute de rara felicidade, batido com o peito do pé, um petardo indefensável para o goleiro alemão! E o que fazer depois do ato?
E o que fazer depois de quase sacramentar a classificação italiana para a final da Euro-Copa,colocando-a iminência de alcançar um título que o escrete italiano não toma posse há exatos quarenta e três longos anos!
Balotelli corre para a beirada do gramado e tira a camisa. Esta é forma! É negra! Como negro era tão somente dois jogadores em campo: Balocelli, pela Azurra e Boateng, pela seleção alemã! O gol é o delírio, o momento de êxtase da torcida, a forma que ele se materializou foi negra! A forma foi um desafio á intolerância: cá estou, dizia o corpo semi-nu de Balotelli, e saibam que seus ruídos racistas, preconceituosos, jamais será capaz de calar o meu futebol. A forma foi uma maneira única, indignada, silenciosa, aguerrida de Mário Balotelli dizer aos seus antagonistas racistas: “__Calem-se imundos anti-desportistas!”